quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Epoché – a arte de suspender o juízo

Descartes localizava a origem do erro em duas atitudes, que chamou de atitudes infantis ou preconceitos da infância:
A primeira é a prevenção, que é a facilidade com que nosso espírito se deixa levar por opiniões e ideias alheias, sem se preocupar em verificar se elas são ou não verdadeiras. Sabe-se que o conhecimento de fé proporciona a uma pessoa acrítica assimilar informações e crenças que deveriam ser questionadas, pois todo consentimento deveria passar pelo crivo da crítica racional.
Todo questionamento é bem-vindo, pois é questionando que esclarecemos vários assuntos e procuramos que as pessoas tenham ideias claras sobre a realidade. Mas como posso saber se as informações recebidas são tendenciosas e/ou ideológicas que interfira na minha vida ou que a mude totalmente? Senso crítico e conhecimento são fundamentais para a autonomia do pensar e arrefecer qualquer forma de influência que nos separe do objeto do conhecimento.
A segunda é a precipitação que é a facilidade e a velocidade com que nossa vontade nos faz emitir juízos sobre as coisas antes de verificarmos se nossas ideias são ou não verdadeiras. Nós, seres volitivos, devemos pensar antes de falar, exprimir, avaliar ou refutar ideias alheias. Um dado importante que pude constatar no município de Barra Velha foi a volitividade em oposição à criticidade. É preocupante o fato de pessoas dentro de uma sala de aula apresentar aquilo que chamamos de “estopim curto”, ao invés de pensarem, “estouram”, principalmente se o assunto for polêmico, e o agravante são os pré-julgamentos oriundos do senso comum.
Não podemos viver num mundo acrítico, sem reflexão por preguiça mental, e, em vez do povo enfrentar os problemas com coragem e propor respostas satisfatórias percebe-se ausência de participação de sujeitos que poderiam ser transformadores da realidade social e até levar outras pessoas a serem também cidadãos ativos na sociedade. Para ser um sujeito crítico da sociedade deve-se libertar de ideologias, da “autoridade” de algumas pessoas e realizar a epoché: antes de emitir um juízo de valor, pensar. Antes de pensar siga os princípios racionais e se passa pelo crivo das três peneiras: verdade, bondade e necessidade. Senão, suspenda o juízo e não abra a boca.
Foi pensando nessas e noutras questões que me motivou escrever este artigo e espero que as reações visem críticas fundamentadas em teorias que sustentem a argumentação. Para superar essa situação proponho a discussão dialética para se elaborar juízos sobre o que se pensa, em vez de pré-julgamentos ou alienação dos sujeitos cognoscentes que não apreendem o objeto de forma reflexiva, clara e objetiva.


Prof. Esp. Eliseu Santos Lima

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Quanto mais velho, mais sábio, ou, quanto mais sábio, mais velho?

A sabedoria é construída ao longo do tempo, alguns alcançam logo, outros no fim da vida e outros nem sabem o que é isso, muito menos desfrutam disso.

Eu diria que alguns espíritos nasceram desafortunados, outros foram feitos e outros se fizeram desafortunados.

Algumas pessoas nasceram num meio que não estimula a percepção do sentido da vida através da experiência cotidiana analisada introspectivamente. Vivem tão atarefados que, quando há tempo para o ócio, buscam preenchê-lo com alguma futilidade e logo aparece o vazio existencial que chega arrombando a razão e emerge o sentimento de inquietude, de insatisfação.

Buscam-se respostas em frases de livro de auto-ajuda, mas o conforto é momentâneo. Ainda há uma solução, a religião. A religião proporciona paz interior, desde que a pessoa exerça sua autonomia iluminada pela divindade, porém as pessoas alienam-se na religião e passam a fazer tudo o que a autoridade religiosa recomenda, e o exercício da autonomia esfumaça-se ao vento da bandeira de Deus.

Por que tanto sofrimento se a vida é tão simples?

Simples? Nada disso. Como posso deixar um segundo sequer vago do meu tempo ao ócio? O silencio é sufocante.

Por que introspecção se eu posso usar meu MP... para estar em harmonia? Pena que a música nem sempre é instrutiva!

Algumas pessoas nunca exerceram sua autonomia, pois parece cômodo obedecer às ordens e regras impostas, seja por um superior, seja pela sociedade.

Não é necessário romper regras, nem conformar-se a todas elas. Devo ser autônomo ao deliberar. Deliberação indica o que devo e o que não devo seguir, bem como agir na hora certa.

Algumas pessoas vivem num meio tão inóspito para deliberar que nem se ousa questionar os valores e conhecimentos transmitidos, muito menos questionar-se. A confiança numa determinada pessoa ou instituição pode ser tão forte que a proximidade ao fanatismo é sensível a outros olhares.

O assunto é tão vasto e a reflexão profunda. Concluo com um aforismo de Baltasar Gracián, de sua obra “A Arte da Prudência”:

A arte de viver muito.

Viver bem. Duas coisas antecipam o fim da vida: ignorância e maldade. Alguns perdem a vida por não saber como salvá-la; outros, por não querer saber. Assim como a virtude é sua própria recompensa, o vício é seu próprio castigo. Aquele que vive uma vida de vícios encontra um fim duas vezes mais rápido. O que vive na virtude nunca morre. A integridade da mente se comunica com o corpo. Uma boa vida é plena tanto em intensidade quanto na extensão1.”

Não esqueça que a sabedoria não ocupa espaço, mas é construída ao longo do tempo e vivida por quem encontrou a paz interior na luz do Ser Essencial.


Professor Eliseu Santos Lima

1 Grifo nosso